sexta-feira, 23 de abril de 2010

Você não sabe como veio parar aqui.

Você não sabe porque ainda não empurrou o relógio da cabeceira da cama,
E vê-lo espatifado como seu coração esteve no último inverno.
Você não sabe o quão poderoso é o seu silêncio,
Que faz reticências nas pessoas,
E a angústia querer brincar de sorriso.
Você não sabe como veio parar aqui.

Você não sabe o quão inútil é o seu disfarce,
Que cola aos ouvidos da sua distração e faz ameaças doces de ninar.
Você não sabe de onde tirar tanta energia,
Mas brinca com as velas cheirosas até se queimar.
Você não sabe como veio parar aqui.

Você não soube o que fazer quando aprendeu a chorar,
E com um desvio de olhar apalpa tudo o que tens como alvo.
Você não sabe o que quer, mas tem certeza que algo terás.
Você não sabe como veio parar aqui.

Você não sabe onde deixou o último acorde de assovio.
Tampouco de onde vem a onda gelada que assola os passos da sua inocência.
Você não entende nada de mapas,
Você viaja.
Você não sabe como veio parar aqui.

Você nunca teve tempo para olhar o que esteve em suas mãos,
Hoje acorda e quer saber porque lhe dói o coração.
E decola a sua mão cansada sobre o peito sossegado de uma amante.
Você não sabe como veio parar aqui.

Você não sabe bem pra onde está indo,
Mas esconde incertezas de onde vem.
Você ri doentiamente para aos outros calar.
Mas quer alguém contigo, colado.
Mão dentro do colã.
Você não sabe como veio parar aqui.
Mas você quer ficar.

Texto do Silvio Marães, irmão de criação, irmão de boteco. Ainda bem que esse texto veio parar aqui.

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