quinta-feira, 27 de maio de 2010

E se...

E se a Microsoft fosse uma fabricante de carros em vez de computadores?
Na certa quando você mais precisasse chegar rápido em algum lugar seu carro travaria no centro e acenderia uma luz no painel escrito "general failure" e saída seria infelizmente dar um boot no carro pra ele funcionar de novo. Ou então se você estacionasse em local proibido ou fizesse um retorno inadequado...tela azul e aquele burilho pã! Você executou uma operação ilegal. O GPS seria aquele maldito clips do word te perguntando de 5 em segundos se você quer ajuda. Ah. você trocou os pneus? Sinto muito, mas eles não são compatíveis com o sistema do carro, compre outros com as especificações para este modelo. Aliás, após trocar os pneus, já compatíveis, os faróis param de funcionar porque dá conflito entre essas duas partes tão intimamente relacionadas.

sábado, 22 de maio de 2010

Não importa quantos prêmios ganhe ou quantos textos eu escreva, ou quão alto chegue. Ainda assim não será suficiente. Eu ainda me sentirei mal. Um perdedor. Já me disseram isso umas mil vez, aqueles caras do colégio, riquinhos, hipócritas. Nascidos em berço de ouro. Aquelas mesmas pessoas que dizemos pra nós mesmos que não prestam mas que no fundo nós queremos respeito. E não é por causa daquelas palavras ditas que realmente nos esforçamos tanto? Não é por elas que a gente briga e mata um leão por dia? Mas se a gente for honesto por um segundo, e refletirmos sozinhos, e permitirmos a nós mesmos por um instante entrar naquele lugar sombrio que chamamos de alma, não será exatamente porque disseram a nós que não podíamos ter o que queremos que estamos aqui, agora, lutando mais uma vez? E aqui, onde tem sol, onde somos alguém não parece que estamos no topo, num pódium, no centro de tudo? E porque diabos tudo parece estar escorrendo pelos meus dedos, indo pra baixo da terra, praquele lugar onde aqueles esnobes sempre disseram que acabaríamos. Com a cara no chão, humilhados, não importando o quanto nós tentamos. Tudo indo embora, assim, desesperadamente... Pro inferno então! Não deixaremos isso acontecer, mostraremos àqueles vagabundos e faremos eles engolirem nosso sucesso.

*adaptado de um texto do filme Frost/Nixon

Pickup your crazy heart and give it one more try



Lyrics | Ryan Bingham - The Weary Kind lyrics

terça-feira, 18 de maio de 2010

O paraíso é aqui

O texto é longo, mas vale a pena.

Sabe aquela viagem que cai no seu colo e você passa uma semana à procura de tudo que você já ouviu falar sobre o lugar para tentar “se entender” com o destino? Foi o que aconteceu.

Estávamos de partida para Iberostar Praia do Forte. Mentes preparadas para uma semana de mordomias à beira mar, regadas a um all inclusive de frutos o mar e guloseimas baianas. Descobrimos, cinco dias antes da viagem, que a reserva feita estava com preço errado e que a brincadeira custaria “apenas”três vezes mais. Depois da decepção inicial, das expectativas frustradas e do mapa aberto: para onde vamos?

Os lugares mais caros saindo de Campo Grande são Manaus e Belém. Como íamos utilizar milhagem para os voos, a escolha foi baseada naquela análise econômica que todos nascemos sabendo: custo-benefíco. Por conseqüência, destino escolhido: Manaus.

A jornada começou acertada. A Gol tem um vôo que sai de CG às 10h40 da manhã e chega em Manaus às 15h, sem conexões, apenas escalas em Cuiabá e Porto Velho. Horário ótimo se comparado aos já conhecidos 3h40 da manhã que os sul-mato-grossenses arcam em suas viagens a SP.

Voo perfeito, se não fossem aquelas infames bolachas recheadas de cheddar. O que é aquilo? Pasta de isopor tem mais sabor... Mas, enfim, voo perfeito (saudades das boas épocas da aviação).

Chegamos à cidade. Uma surpresa nas boas-vindas: locamos um carro ganhando upgrade para um modelo melhor e completíssimo. Fomos direto ao Hotel Tropical, pela Avenida do Turista, arborizada, limpa, linda e margeando a floresta. Ao chegar, demos de cara com uma estrutura de cinema. Apesar de antiga (erguida nos áureos anos de 1970 da Varig) a área construída é enorme e trazia a lembrança as grandes festas e reuniões freqüentadas por celebridades e “nobres” para estas bandas: zoológicos, diversas piscinas, inclusive uma com onda, orquidário, salas de eventos que dariam para jogar bola, shopping, porto, praia particular no Rio Negro. Imenso! Se alguém preferir ficar no centro por motivos profissionais, o passeio pelo hotel deve ser incluído.

Imagino o que Eike Batista não faria num hotel como aquele. Merece um investidor que garanta uma boa reforma e uma adequação ao novo século. A localização, apesar de longe do centro (16 km), é a de Ponta Negra, bairro/praia de encontro dos moradores aos finais de semana e de realização de eventos. Cercado por restaurantes de comidas regionais, ali você vai poder saborear um ótimo tacacá ou bombons de cupuaçu de diversas senhoras que fazem isso há décadas. Aliás, se Manaus precisar de outro nome, Cupuaçu seria uma opção. A fruta está por todos os lugares e maravilhosa como sempre.

Curtimos a noite de sábado na região do teatro Amazonas. Construído no final do século 19, na época gloriosa da borracha, o teatro abriga o festival de Ópera. Mesmo começando dois dias depois de nossa despedida, pudemos presenciar grandes ensaios e apresentações. Dizem que este período que antecede o festival é ainda melhor, pois vemos os artistas dando tudo para se preparar para os espetáculos sem a rigidez do programa, ou seja, presenciamos a brincadeira entre sopranos, risadas entre atores, empurrões carinhosos entre as cenas de Yerma do grande Villa-Lobos. O maestro possui um busto em homenagem à sua incomparável contribuição à musica brasileira. A visita é guiada, custa R$10,00 por pessoa e vale cada centavo. Salas de festas, camarotes, móveis de época, instrumentos do início do século, peças de porcelana... O teatro possui duas salas pós-concerto, que eram destinadas a homens e mulheres, separadamente. A dos homens possui uma escada “secreta” que os tirava do local, facilitando a visita dos abonados e convidados, sem que ninguém mais soubesse, aos bordéis da região. Bons tempos!

O dia seguinte foi destinado ao passeio mor da região: o encontro das águas. O local se estende por seis quilômetros, onde o Rio Negro encontra o Solimões e forma o Amazonas. O Solimões chega ao local a 6 km por hora, com uma terra lamacenta, cheio de vida. O Rio Negro é represado pela velocidade e pela diferente densidade do Solimões. Com PH mais ácido, o Negro também é chamado de Rio da Fome ou Chá da Selva, isso porque as folhas que se decompõem em seu leito, turvam a água, e como é um rio muito lento, de 2 km por hora, a produção de ácido tânico é grande, dificultando a reprodução de insetos e a cadeia alimentar por onde passa. O lado bom é que MANAUS QUASE NÃO TEM PERNILONGOS E MOSQUITOS. Uma ótima notícia para quem conhece o Pantanal e já foi picado até debaixo d´água pelos monstros da maior planície alagada do planeta.

Conseguimos ver perfeitamente a diferença entre os rios e a prioridade que Solimões exerce sobre o Negro em seu encontro. Por onde os barcos passam, redemoinhos são criados e lindos desenhos se formam. Mais uma pintura da natureza.

De lá, depois de duas horas de barco, fomos almoçar no Amazon Palace, uma hotel de selva, cheio de requinte situado no Buraco do Tatu, um local com uma pequena entrada na margem do Negro. Inteiramente flutuante, a estrutura sobe e desce junto com o nível da água. Impecável. Funcionários atenciosos, piscina límpida, academia, espaço para eventos, locais de lazer, decoração moderna, móveis contemporâneos, comida regional MARAVILHOSA e o melhor de tudo, um deck alto para observação da floresta que fica no nível da copa das árvores. Uma vista única. O passeio valeu também para conhecer pessoas, que com histórias diferentes, estavam ali de boca aberta com tudo que a floresta é capaz de oferecer.

O delicioso Matrinxã foi o prato do jantar, que surpreendeu. Regado à azeite e pimentões, estava divino. Em mim, que sempre tenho azia por causa de pimentões, ela nem passou perto. A cozinha regional é baseada em peixes e frutos do mar e se você não tem problemas com a tropomiosina (proteína do camarão e congêneres, alérgica a alguns pobres seres humanos), se esbalde, mergulhe nas caçarolas, peixadas, pirões, tacacá (iguaria de tucupi, camarões e jambu) ... O melhor tacacá da cidade, segundo a Veja Manaus, fica em frente ao teatro Amazonas. Não perca, é bom mesmo.

O dia seguinte começou com uma jornada de 110 km ao município da região metropolitana (!) de Manaus, chamado presidente Figueiredo. Fundada pelo último presidente militar brasileiro a cidade possui 92 cachoeiras catalogadas e diversas grutas e cavernas. Fomos direto ao CTA – Centro do Atendimento ao Turista e contratamos um guia pela bagatela de R$ 50,00. O melhor investimento dos últimos tempos.

Fomos direto a caverna de Maroaga, que tinha como aviso, a advertência de existir “mofo maligno” que, ainda não estudado, estava relacionado a algumas mortes e doenças esquisitas. Foi fácil escolher o destino com um chamariz desses! Depois de duas horas caminhando na mata, com um guia que valeu um curso de sobrevivência na selva e, ainda, a alguns minutos das tais grutas, sentimos um cheiro forte de urina... e o guia/poeta/instrutor: “Esse é cheiro de xixi de onça! Passou aqui agora a pouco para demarcara território”. Maravilha. Essa é uma boa notícia! Vamos acelerar o passo?

Bom, depois da dose de adrenalina extra que precisávamos para chegar às grutas, o visual foi impressionante. Uma queda d´água, límpida, linda e cheia de vida de 25 metros de altura com uma gruta formada (segundo ele e geólogos) pelo impacto das ondas do mar que ali existiu um dia. Um lugar lindo, com diversas formações, um túnel de mais de 200 metros, que ninguém conhece o fundo. Os morcegos executavam a sinfonia, enquanto nós, descalços, pois a gruta é alagada, andávamos num fio de água, no total escuro. Acrescento mais um detalhe que havia esquecido: suando em bicas, pois o calor era extenuante.

Resolvemos conhecer a outra gruta da região, a da Judéia. Após andar mais uns 20 minutos, ainda descalços, pelas águas e depois pela mata, chegamos à entrada ainda maior, que também o mar antigo delineou aos paredões. Lindo!

Na volta ao carro, passamos por aranhas gigantes, madeiras cicatrizantes, folhas comestíveis e árvores caídas pela força do vento. É o ciclo da natureza acontecendo ao alcance de nossas mãos.

Como Presidente Figueiredo é mais conhecida pelas suas cachoeiras que por suas cavernas, mudamos de assunto e fomos às quedas d´água. A primeira a ser visitada foi a mais espetacular: Santuário. Uma quantidade imensa de água é jogada de 15 metros de altura formando uma névoa densa, que pode ser comparada com a londrina. A força da água é tão intensa que muita espuma é formada, parecendo um banho químico como o do Tietê há tempos atrás. Mas, nada disso, a espuma, em poucos metros, se esvai, dando forma a um rio calmo, porém caudaloso, que leva suas curvas a outras cachoeiras à frente em seu leito.

De lá, conhecemos ainda a Iracema, que tem cara de balneário e a Sulframa, ladeada por uma formação geológica que deixa a mostra as diferentes eras margeando o leito do rio. Com melhor estrutura, o município possui ainda um grande parque aberto à população de nome indígena: Urubuí. Bóia Cross, tirolesa, diversos restaurantes (um deles rolando no telão Pink Floyd!), lojinhas, bares, quiosques de praia. Uma estrutura que não era esperada, em virtude da distância percorrida e da total ignorância de nossa parte.

Depois de um dia intenso e de uma estrada que dá medo a qualquer motorista de caminhão experiente, o dia terminou regado a Tucupi e frutos do mar. Calmo, sereno, vendo a lua, jantar amazônico.

Manhã corrida. Íamos andar 180 km até Novo Airão para encontrar com os moradores mais famosos da Amazônia: os botos cor-de-rosa. Corremos para o Porto de São Raimundo, pegamos a balsa e depois de 40 minutos atracamos no município de Iranduba. Passamos pela cidade com uma cena de documentário da NatGeo: uma menina de 6 ou 7 anos, remando em meio ao Rio Negro, de sua casa sobre palafitas até o cais da cidade. Uma cena impensável para caboclos ao sul do local. Bom, estrada AM-070 e chão...

Ao cruzarmos o rio Ariaú, um estrondo de aventura tomou nossos corpos e uma idéia maluca veio à cabeça: e se contratássemos um pescador, ele nos levasse pelo rio até o Hotel Ariaú – o mais conhecido hotel de selva do mundo, que costuma receber sangues-azuis e rockstars, como Mick Jagger e o príncipe Charles e depois de lá, para o centro de Bototerapia no encontro do Negro com o Ariaú.

Idéia boa. Como concretizá-la? Saímos perguntando de casa em casa se havia algum pescador ou barqueiro disponível para nos levar a um passeio pela região. Depois de umas 5 ou 6 casas, chegamos à residência de um pescador disponível: em casa porque estava doente. Ele disse: “Não se preocupe, meu filho te leva”. “Quantos anos tem seu filho?" “12”. “D-O-Z-E?”. “Isso, 12, bem vividos”. “Estais brincado?” “Não, tô falando sério”. “Vamos fazer o seguinte: OK, seu filho vai de piloteiro. Mas, sua mulher (que tinha sido guia, mas, que estava longe da profissão, por causa de um filho temporão) vai junto. OK”? “OK.” Acabou que a mãe administrou a aventura (e o barco) com primazia.

Pegamos a LevFort de 6 pessoas (não muito grandes), motor 15hp, 2 litros de gasolina. Precisávamos encontrar gasolina no caminho, pois ficaríamos sem para voltar. Ou seja, viagem de ida para o desconhecido. Caminho maravilhoso, cercado por árvores de todos os tamanhos. De vez em quando jacarés nas margens, as silhuetas de botos brincando pelo caminho. Chegamos ao Hotel e foi um choque, o maior hotel de selva do mundo está definhando. Não há mais nada de glamour, e apesar das fotos enganarem bem, o lugar estava decadente e vivia da exploração dos turistas gringos. Água a 7 reais, ímã de geladeira a 10, chocolate de 30 g, 5 reais. Passarelas em decomposição, quartos com cheiro de mofo, decoração duvidosa, atendimento ruim. Valeu o passeio e a oportunidade pessoal de desaconselhar qualquer um

Depois da decepção do hotel, mais 3 quilômetros de barco até os botos. INACREDITÁVEL, FANTÁSTICO, INCRÍVEL, FENOMENAL, PERIPATÉTICO. Não é possível descrever com palavras o que é nadar com aqueles seres. Vale a viagem, o passeio e os 300 reais que cobram para se conhecer os bichos. Se você for aventureiro, pode pagar apenas R$ 60,00 como eu e fazer o mesmo. Mas, só aconselho para os fortes de coração.

Voltando aos botos, a pele é macia, linda. Eles parecem que entendem o instrutor e agem como pessoas. Como demos a sorte de estarmos sozinhos com eles, tivemos a oportunidade, por quase uma hora de interagir com uma dúzia deles. Machos, fêmeas, idosos e mocinhos cheios de energia. Eles nascem e vão se tornando rosa com o tempo, ou seja, quanto mais velhos, mais bonitos. Seria bom que a humanidade tivesse essa sorte. Ficaram dançando entre a gente, passando por baixo de nós e por vezes, servindo de apoio para nossos pés, enquanto suas cabeças ficavam a nosso lado olhando para os peixes, nas mãos do instrutor, que tanto os animavam. Como o sol amazônico não é feito para peles desavisadas, mesmo com protetor o pessoal que estava na observação cozia fortemente à espera de minhas estripulias com os bichos. “Ok, ok, vamos embora. Tem que ir alguma hora”. Os botos não queriam deixar que saíssemos, ficaram com o bico, como se estivessem colocando uma barreira, na frente da escada para que não subíssemos... É de chorar, só de lembrar.

Voltamos para Manaus, economizando 300 km de estradas apenas para destemidos e 3 a 4 horas do dia. Voltamos com a mochila cheia de experiências, aventuras e celulares de uma ex-guia que conhece a área como poucos. A aventura valeu muito a pena. MUITO.

A noite foi acompanhada por um jantar de rei. Um restaurante chamado Apuí, nome da árvore que decora o local, assim como a Figueira que coroa o impagável Figueira Rubait, da Haddock Lobo. Resolvemos pelo peixe mor da região: Tucunaré na caçarola. Achando pouco, ainda foi pedido, “para acompanhar” uma porção de farofa de banana da terra e farinha Owari, uma espécie de farinha extra, plus, power de mandioca. O prato já era acompanhado por legumes e arroz com jambu. Não precisa nem dizer que quando chegou, o prato não servia apenas 2 pessoas como o cardápio dizia, e sim 2 dúzias de pessoas. Para quem só tinha visto Tucunaré em fotos até aquele dia, foi uma apresentação á altura - um banquete. Não sobrou espaço para sobremesa, café ou mesmo uma azeitoninha. Orgia gastronômica.

O último dia foi dedicado a capital. Passeios pelos bairros distantes, centro caótico, e shoppings. Aliás, o Manuara vale a visita, com seus ótimos restaurantes, um empório que vende um pouco de tudo da produção local e uma sorveteria (Abaixo de Zero) que encanta com seu zilhão de sabores regionais.

A Zona Franca foi uma decepção em compras. Resumindo: Compras Zero. Depois da abertura de mercado do Ilustre Fernando Collor de Mello, a região perdeu importância, e é normal as coisas custarem menos nas Casas Bahia. Em compensação, foi nota 10 em organização, força de trabalho e esperança de um Brasil realmente de primeiro mundo. Um lugar em que tudo funciona, se vê o crescimento e enxerga oportunidades.

Li os jornais todos os dias e ali, não faltam empregos, e sim, gente qualificada. De hotéis, a indústrias, de empresas de logística a exportadoras, de empresas de componentes a fábricas de motos. Tem de tudo e precisando de todos. Se você é jovem e quer abrir uma nova porta de opções. Pense em Manaus. Além de ser a porta para o paraíso é uma porta cheia de oportunidades e possibilidades.